quinta-feira, 4 de junho de 2009

Memórias da infância 1

“Iludir a si mesmo por amor é a mais terrível decepção,
É uma perda eterna para a qual não existe reparação,
Quer neste mundo, quer na “eternidade.”

Soren Kierkegaard

Cheguei já tarde da noite, tudo ali era novidade para mim, olhei pela primeira vez aquela casa linda, a casa da minha avó. Era uma casa grande com sótão, um quartinho escuro lá em cima, uma dispensa enorme, Eu desci correndo a escada mal podia esperar no outro dia quando eu poderia explorar todo o território, onde moraria por pelo menos 1 ano. Bem eu fui a escolhida para morar uns tempos na casa de minha avó para lhe fazer companhia, pois, meu avô havia falecido .
Deste tempo só tenho boas recordações, eu tinha 5 para 6 anos de idade, o tempo das descobertas, tempo das mudanças, estava me conhecendo, muito esperta, eu era uma garotinha cheia de sardas, lembro que ficava horas em frente ao espelho arrumando meu cabelo, colocando grampo e presinhas.
Minha avó fazia tudo para mim, acho que ela queria esquecer sua perda e dedicou todo seu tempo à mim, ela esquentava um pãozinho que lembro do cheiro até hoje, me encheu de roupas e brinquedos, o melhor de tudo que era tudo só para mim, não tinha que dividir com ninguém, acabei me tornando um pouco mimada, egoísta,...tinha um tamanquinho vermelho, que eu não tirava, uma bolsinha tiracolo, minha boneca linda bel, um triciclo que eu voava nele, nas calçadas, era maior aventura,
Um dia quando voltei da escola tinham levado meu tico-tico, minha avó então me prometeu uma bicicleta no lugar, e fiquei esperando..., andava atrás nas lojas, ia até sozinha procurar, um dia fui debaixo de chuva e nada... Depois o tempo passou e eu esqueci, e aquela bicicleta, bem, não ganhei .
Minha avó tinha um bar e uns quartos de hospedagem, o balcão do bar era muito alto e tinha só uma cadeira ou banco para sentar então eu ficava me espichando para ver do outro lado, onde tinha mesa de sinuca, eu gostava de ficar recortando figuras nos jornais e revistas, em cima do balcão, minha avó sempre comigo, me ensinando a cortar na linha pontilhada , ela costumava encher uma bolsinha com balas e chicletes que delícia.
Não posso esquecer as tardes de domingo que eu ia á matinê assistir filmes de faroeste, ou de navio pirata, acho que ficava bem perto de casa, pois eu ia só com meus primos.
Gostava muito quando chovia e minha tia ia me buscar na escola, eu fingia que ela era a minha mãe, íamos pelas ruas estreitas de sombrinha, eu chegava toda molhada, mas não me importava, estava feliz.
Aos domingos também ia à missa, a Márica me levava, ela cuidava de mim, e de todos, acho que eu gostava de ir só porque ela comprava pipoca doce para mim, depois comecei a ir sozinha, já sabia o caminho, um dia encontrei com um cachorro na rua, e tive muito medo, dei a volta no quarteirão de tanto medo, e esse medo me persegue até hoje, se encontro um na rua, sinto como se tivesse 6 anos de idade, como naquele dia, pode acreditar dou a volta no quarteirão.!
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